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SUS: essencial e universal — mas longe de atender com qualidade todos os brasileiros

 

O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma conquista histórica: garantiu atendimento médico gratuito a toda a população brasileira. É um modelo raro de saúde pública universal no mundo, composto por postos, hospitais, centros de vacinação, SAMU, hemocentros e atenção básica operada em rede. Mesmo com todas as deficiências, o SUS representa a materialização do direito à saúde consagrado na Constituição de 1988.

No Paraná, contamos com 9.808 estabelecimentos de saúde, uma rede mais robusta que a média nacional. Isso explica porque nossa população tem acesso a mais unidades públicas e melhores indicadores em relação a estados com infraestrutura precária. Entretanto, mesmo com essa base, nem todas as demandas são atendidas com a qualidade necessária, sobretudo nas áreas mais remotas do interior.

Subfinanciamento crônico e sucateamento estrutural

O principal desafio do SUS não é apenas a gestão: é a falta de recursos adequados. O governo federal destina apenas 3,8% do PIB à saúde pública, um patamar baixo até em comparação com países latino-americanos como Colômbia e Chile, e longe dos 6–8% praticados por nações da OCDE. Para cobrir a lacuna, seria necessário um aumento de cerca de R$10 bilhões por ano, conforme projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI).

Essa escassez afeta principalmente a atenção especializada, exames, cirurgias eletivas e medicamentos de alto custo. Hospitais e UPAs enfrentam predomínio de equipamentos antigos ou inoperantes, falta de profissionais e atrasos recorrentes em repasses de recursos. O resultado é que muitos cidadãos recorrem à saúde suplementar, criando o famoso “duplo gasto”: pagam impostos para o SUS e também planos privados.
Plano de saúde não é luxo: é solução muitas vezes necessária

O crescimento constante dos planos privados evidencia isso: em dezembro de 2024, 52,2 milhões de brasileiros estavam ativos em planos médico-hospitalares, um recorde, enquanto outros 34,5 milhões usavam planos odontológicos. São cerca de um quarto da população do país com plano de saúde, mesmo já financiando o atendimento público.

No Paraná, esse movimento é visível e crescente. A saúde suplementar funciona como rede de segurança para quem precisa de agilidade e acesso a profissionais e consultas nas grandes cidades — ou simplesmente para quem não vê no SUS atendimento com dignidade e eficiência.

A crítica ao SUS precisa ser construtiva. Reconhecer sua importância não é ignorar seus problemas. Ele já atendeu milhões durante pandemias e emergências. Mas os limites atuais mostram que precisamos reforçar a gestão, a infraestrutura e, sobretudo, o financiamento real. A regulação federal precisa permitir autonomia aos estados para aplicar recursos com mais agilidade e foco local.