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CPI do INSS ganha novo fôlego após prisão de ex-presidente

A madrugada de quinta-feira (13) amanheceu pesada nos corredores da Previdência Social. Enquanto aposentados seguiam suas rotinas, confiando que o benefício suado de uma vida de trabalho estava seguro, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União deflagravam uma das maiores operações contra fraudes previdenciárias da história recente do país. O alvo: uma teia de corrupção que, segundo os investigadores, desviou mais de R$ 6 bilhões em descontos indevidos de aposentadorias e pensões — um golpe que atravessou gestões, ministérios e partidos.

Entre os nomes agora na mira da Operação Sem Desconto, estão José Carlos Oliveira, ex-ministro do Trabalho e Previdência Social no governo Bolsonaro — hoje rebatizado como Ahmed Mohamad Oliveira, por motivos religiosos — e dois parlamentares: o deputado federal Euclydes Pettersen Neto (Republicanos-MG) e o deputado estadual Edson Cunha de Araújo (PSB-MA).

A decisão foi autorizada pelo ministro do STF André Mendonça, e mobilizou 63 mandados de busca e apreensão e 10 de prisão preventiva em 15 estados e no Distrito Federal. No Paraná, a operação teve desdobramentos diretos, com a prisão do ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, que vinha sendo ouvido pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS desde setembro.

A teia de irregularidades

O que começou como uma denúncia isolada sobre descontos indevidos de mensalidades associativas virou uma investigação de escala nacional. Milhões de aposentados e pensionistas tiveram, mês a mês, pequenos valores subtraídos de seus benefícios sem autorização — montantes que, somados, revelam um esquema sistêmico de estelionato previdenciário, corrupção e falsificação de dados em sistemas públicos.

De acordo com a PF, as fraudes eram alimentadas por entidades e confederações de fachada, criadas para dar aparência de legalidade às cobranças. Uma delas é a Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), onde o deputado Edson Araújo ocupa a vice-presidência. Já Pettersen é citado por supostamente ter vendido um avião a uma dessas entidades, numa transação que agora é vista como parte do fluxo de lavagem de dinheiro.

Entre gestões, a ferida que não cicatrizou

O caso atravessa fronteiras políticas. O ex-ministro José Carlos Oliveira, servidor de carreira do INSS, presidiu o órgão entre 2021 e 2022 e assumiu a pasta da Previdência até o fim do governo Bolsonaro. À CPMI do INSS, em setembro, ele afirmou ter tomado ciência das fraudes “apenas em abril deste ano”, após a primeira etapa da operação — uma versão que os investigadores agora contestam, diante das novas evidências apreendidas.

O governo Lula tenta, por sua vez, reforçar a narrativa de que está “limpando a casa” e que as irregularidades “atravessaram gestões”. A estratégia é clara: mostrar que as investigações são fruto de um compromisso institucional, não de revanche política. “Ninguém está acima da lei”, declarou o deputado Duarte Jr., integrante da CPMI.

Nos bastidores do Congresso, a prisão de Stefanutto trouxe um novo fôlego à CPI, que vinha sofrendo para se manter em evidência. Agora, o colegiado aposta que as buscas e apreensões abrirão caminho para identificar o primeiro escalão político envolvido nas fraudes — o elo que faltava para dar corpo à apuração.

Entre a dor e a esperança

Enquanto os nomes ilustres dominam as manchetes, nas filas das agências do INSS o assunto se traduz em indignação. Dona Célia, 72 anos, aposentada de Curitiba, conta que notava “uns descontos estranhos todo mês”, mas não entendia do que se tratava. “Quando vi na televisão que estavam roubando da gente, chorei. A gente trabalha a vida inteira pra isso.”

Casos como o de Dona Célia se multiplicam pelo país. Para muitos, recuperar o dinheiro perdido será quase impossível. Mas, para outros, há um sentimento de esperança na justiça — um desejo de que, enfim, o país encare com seriedade o que significa proteger seus idosos e trabalhadores.

O peso da transparência

No coração da CPI, parlamentares agora falam em propor uma reforma sistêmica na política de descontos automáticos do INSS, com auditoria permanente e cruzamento de dados entre bancos e entidades. A promessa é que o golpe não volte a se repetir.

Mas a credibilidade ainda precisa ser reconquistada. “É o momento de o Estado mostrar que está do lado do cidadão, e não do conluio”, disse uma fonte que prefere não se identificar.

Entre a indignação e o cansaço, o país volta a se perguntar: quem defende o aposentado brasileiro?

Fonte: SulPost