A pandemia da COVID-19 pelo novo coronavírus tem sido um dos maiores desafios sanitários em escala global do século 21.
Depois de dois anos, com a vacinação em estado adiantado, vemos os números crescerem absurdamente, fora o receio com a nova variante ômicron e o vírus H3N2, uma nova variante da influenza, em circulação no País. No Paraná, onde o vírus já contabilizou mais de 40 mil mortes, os postos de saúde estão abarrotados de pessoas com síndromes respiratórias. Resultado das aglomerações para as comemorações de final de ano? De acordo com especialistas, essa conta ainda está para chegar.
Enquanto isso, em um ano eleitoral, a pandemia está sendo usada como palanque. A discussão mais recente é referente à vacinação de crianças, um embate político, um jogo de opiniões que quem menos ganha com tudo isso é a população, que fica no meio desse tiroteio e a qualquer momento pode sofrer com uma bala perdida.
São comentários e opiniões divergentes entre especialistas e governantes, o Brasil está deixando de ser uma unidade e passando a ter leis e decisões locais. No caso da vacina para crianças, por exemplo, vários estados se opuseram às determinações do Governo e trabalharam por conta própria para garantir a segurança da população. Depois da grande repercussão, o ministério da Saúde confirmou a vacinação nessa faixa etária.
O que todos temos que entender é que a pandemia é um problema político.
Passaram-se dois anos desde que o primeiro caso do Covid-19 no Brasil veio a público, e neste período há algo que a cada dia se torna mais evidente: a pandemia que estamos enfrentando é, antes de tudo, um problema político. E para compreendermos adequadamente este momento histórico, devemos começar por aquilo que, de tão evidente que é, às vezes se torna ignorado.
Em 25 de fevereiro de 2020, quando o Brasil registrou o primeiro caso da doença, estávamos em vantagem se comparados com a China e países da Europa que tiveram que lidar com o Covid-19 sem ter qualquer referência de como proceder. Com China, França, Espanha e Itália entrando em colapso, era fácil entender o que aconteceria se medidas de distanciamento social não fossem tomadas em tempo hábil. E é aqui que começa a ficar mais fácil de compreender onde entra o caráter político da pandemia, especificamente no Brasil.
Cientistas alertaram sobre a necessidade do isolamento social desde meados de março. Mas nem por isso o isolamento social foi adotado como política pública no Brasil, pelo menos não na condição de uma ação que partisse do Governo Federal. Sim, para que as recomendações científicas fossem colocadas em prática, era necessário ação política.
Ou seja, há no Brasil uma organização social e econômica que não nos coloca em uma posição confortável no enfrentamento a uma pandemia. Foram tantos erros na condução, que precisou ser investigado mais a fundo, uma CPI da Pandemia. Investigação que nesta semana senadores repercutiram a decisão do Ministério Público Federal (MPF) de desmembrar em 12 apurações a investigação a partir do relatório final. O procurador-geral da República, Augusto Aras, e o procurador Claudio Drewes José de Siqueira encaminharam ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ofício em que comunicam a “autuação de notícia de fato”, um procedimento padrão para adoção de providências com base no relatório final encaminhado ao MPF pela CPI da Pandemia. Cabe à PGR apurar e, se for o caso, oferecer denúncia contra o investigado. Portanto, até para serem investigados ou punidos pelos erros políticos praticados durante a pandemia, vai levar algum tempo.
O que podemos refletir com a proximidade das eleições, é que precisamos analisar além das aparências, do extremismo e das trocas de farpas, as propostas para garantir um direito constitucional, a saúde e outros direitos que o poder político tem a prerrogativa de nos garantir. A pandemia nos pegou de “calcas curtas” e gerou problemas por todos os lados, sanitário, econômico e, principalmente de cidadania.
Referências – Guilherme Loureiro Werneck / Marilia Sá Carvalho (A pandemia de COVID-19 no Brasil: crônica de uma crise sanitária anunciada)