A aprovação da recuperação judicial (RJ) por mais de 70% dos credores deu um novo fôlego interno ao Paraná Clube nesta semana. O Tricolor agora pretende negociar a sua Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e tenta uma manobra política para atrair investidores.
O ge apurou que o novo plano da RJ, com descontos de até 50%, tem um grupo interessado na SAF paranista por trás. Já o clube alega que são vários interessados e em conversas.
A ideia é que o comprador assuma a dívida do clube, que caiu de R$ 119 milhões para cerca de R$ 60 milhões com o deságio da RJ. O investidor pagaria R$ 18 milhões no primeiro ano e o restante até 2033.
Em contrapartida, o investidor ficaria com os imóveis do Paraná como garantia e com o controle das eventuais receitas do clube. O período acordado é de, pelo menos, 10 temporadas.
Esse grupo é formado por três empresas brasileiras, que colocariam de R$ 100 a R$ 120 milhões no Paraná
O grande problema desse cenário é que as sub-sedes da Kennedy e do Boqueirão e a Vila Olímpica não podem ser vendidas ou leiloadas para pagamento de dívidas por ter fins de lazer e recreação esportiva, de acordo com a lei municipal nº 1550/1958, do então prefeito Ney Braga. Já a Vila Capanema pertence a União.
Para tentar reverter o quadro, o Tricolor conta com um processo legislativo em andamento, de autoria do vereador Rodrigo Reis (União). Em contato com a reportagem, Reis afirmou que foi analisado todo o patrimônio paranista por cerca de um ano e que uma parte pode ser colocada como garantia e com exploração comercial, além de não ter intenção de vendê-las.
Já os débitos fiscais e tributários, que não entram na recuperação judicial, estão sendo tratados direto com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. O clube protocolou o pedido de transação tributária, com expectativa de um acordo neste ano com a venda da SAF.
De acordo com o balanço financeiro de 2022, a dívida total do Tricolor é de R$ 156,3 milhões. O prejuízo no ano passado foi de R$ 823 mil.
A 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de Curitiba tem até 30 dias para a homologação do acordo da recuperação judicial. A proposta paranista, refeita no começo de junho, é de deságios de 11,5%, 38,5% e 49,8%.
O Paraná, assim, evitou uma eventual decretação da falência. Esse era o próximo passo em caso de negativa dos credores.
Atualmente, o Paraná divide o débito de R$ 119,4 milhões na RJ em três grupos: 361 como trabalhista, 52 no quirografários e oito entre Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP). Ao todo, são 428 credores.
- Trabalhista: R$ 59,5 milhões – 49,8% de desconto
- Quirografários: R$ 46 milhões – 38,58% de desconto
- ME e EPP: R$ 13,7 milhões – 11,5% de desconto
Os créditos até R$ 198 mil, por exemplo, seriam pagos em até um ano com 38,5% de desconto. O mesmo aconteceria com os credores acima deste valor, mas também receberiam R$ 181,8 mil no mesmo período. Ambos estão inclusos na Classe I.
Já a Classe III, dos quirografários, prevê um desconto de 49,8%, com pagamento de parcela única por 10 temporadas. A primeira parcela seria paga somente um ano e meio depois da aprovação e homologação da RJ em assembleia. A última classe, IV, tem o mesmo planejamento dos quirografários e envolve EPP e ME.
Outra grande mudança é a entrada da Kennedy como garantia de pagamento. Esse era o pedido de um grupo de credores, que cobrava uma solução com poder público para ceder o patrimônio em troca de cotas (potencial construtivo) para venda no mercado. O Athletico fez algo semelhante na construção da Arena da Baixada para a Copa do Mundo de 2014.
Por ser doado pelo município ao EC Água Verde, que depois virou Pinheiros, dois dos sete clubes de origem do Paraná, o imóvel não pode ser negociado. De acordo com a lei municipal nº 1550/1958, do então prefeito Ney Braga, o patrimônio não poderia ser vendido ou leiloado para pagamento de dívidas por ter fins de lazer e recreação esportiva.
A sede social até chegou a ir a leilão, mas não obteve nenhum lance nos dois pregões de março de 2021. A 15ª Vara Federal de Curitiba determinou o leilão pela dívida de R$ 35 milhões com o Bacen (Banco Central do Brasil).
Quatro meses depois, a Justiça cancelou a terceira tentativa de leilão devido à aprovação da recuperação judicial, em julho de 2022. O cenário é parecido com a sub-sede do Boqueirão, que foi arrematada por R$ 9 milhões em 2018 e teve seu pregão cancelado no final de julho por também ter sido doado pela prefeitura ao Tricolor, o que o deixaria impenhorável.
Vale lembrar que parte da Kennedy é arrendada pelo Espaço Torres desde 2012 para eventos nos salões. A parcela única de R$ 1 milhão é válida até 2032.
De acordo com avaliações judiciais, a Kennedy tem o valor de R$ 88 milhões.
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