O protesto contra a morte do imigrante congolês Moïse Kabamgabe, realizado neste final de semana, em Curitiba, terminou com a ocupação da Igreja Nossa Senhora do Rosário de São Benedito, no bairro São Francisco. Kabamgabe, foi espancado até a morte em um quiosque na Zona Oeste do Rio de Janeiro no dia 24 de janeiro.
Na Capital paranaense, o ato começou em torno das 5 da tarde e, de acordo com os manifestantes, um pouco depois do início, o padre da Igreja teria começado a empurrar os manifestantes que estavam na escadaria da igreja.
Neste momento, as pessoas presentes começaram a gritar ‘racista’ para o padre, que fez sinal de positivo com as mãos. Os manifestantes ocuparam a igreja em forma de protesto. Conforme declarações de presentes, o vereador do PT Renato Freitas, teria coordenado a invasão da Igreja. Em nota à imprensa, o vereador se manifestou:
“Nota de esclarecimento sobre o ato por Justiça para Moïse e Durval
Na tarde do último sábado (5), nos reunimos no Largo da Ordem, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário de São Benedito, em um ato organizado pelo Coletivo Núcleo Periférico, contra o racismo, a xenofobia e pela valorização da vida.
O local do ato foi escolhido pela relação histórica do local com a população negra curitibana. A Igreja, inaugurada em 1737, foi construída por e para pessoas escravizadas, uma vez que negros e negras não poderiam entrar em outras igrejas de nossa cidade.
A manifestação foi realizada em memória e por justiça para Moïse Kabagambe (24) e Durval Teófilo Filho (38), dois homens negros brutalmente assassinados nos últimos dias. O ato contou com a participação de representantes do movimento negro, movimento de mulheres e diversos imigrantes que residem em Curitiba e relataram violências racistas nesta cidade.
Durante o ato, um diácono responsável pela igreja, solicitou que os manifestantes fossem para outro local, sob a justificativa de que o ato não deveria coincidir com a saída dos religiosos da missa que havia se encerrado.
Como parte simbólica da manifestação, entramos juntos na Igreja que estava vazia, de forma pacífica, relembrando que nenhum preceito religioso supera o amor e a valorização da vida.
Pacificamente, assim como entramos na igreja, saímos e seguimos com a manifestação, reivindicando políticas públicas para imigrantes e de combate ao racismo na cidade.
Nos surpreende perceber que exaltar o amor e a valorização da vida em uma igreja causa mais indignação mais que o assassinato brutal de dois seres humanos negros no Brasil.
Mandato do Vereador Renato Freitas (PT)”
A Arquidiocese de Curitiba também se pronunciou por nota assinada pelo Arcebispo de Curitiba, Dom José Antonio Peruzzo:
“No dia 05 de fevereiro de 2022, em torno das 17.00hs, um grupo apresentou-se junto à porta da Igreja do Rosário, para protestar contra a violência havida no estado do Rio de Janeiro, cujo desdobramento final foi a morte de um cidadão congolês e, em outro caso, a morte de um brasileiro afrodescendente. Era no mesmo horário da celebração da Missa. Solicitados a não tumultuar o momento litúrgico, lideranças do grupo instaram a comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos.
É verdade que a questão racial no Brasil ainda requer muita reflexão e análises honestas, que promovam políticas públicas com vistas a contemplar a igualdade dos direitos de todos. Mas não é menos verdadeiro que a justiça e a paz nunca serão alcançadas com destemperos ou impulsividades desequilibradas.
Desde a sua primeira inauguração, em 1737, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos sempre foi um lugar de veneração e de celebração da fé. Foram os escravos a edificá-la. Hoje, muitos afrodescendentes, a visitam. E o fazem em grupos ou individualmente. Sempre primaram pelo profundo respeito, até mesmo quando não católicos.
Infelizmente, o que houve no último sábado foram agressividades e ofensas. É fácil ver quem as estimulou.
A posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa. Também a Lei e a livre cidadania foram agredidas. Por outro lado, não se quer “politizar”, “partidarizar” ou exacerbar as reações. Os confrontos não são pacificadores. O que se quer agora é salvaguardar a dignidade da maravilhosa, e também dolorosa, história daquele Templo”. Diz a nota.